quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ainda bem que gatos não falam

Um apartamento vazio pode fazer mais barulhos do que se imagina, principalmente quando se encontra no centro, nesses becos sujos e perdidos, e isso está me enlouquecendo, o chão faz barulho, a geladeira faz barulho, ouço passos da rua como se fossem aqui dentro... é tão insuportável.... já estou cansada de fugir da solidão nos bares, conheço todos os bares da Augusta, da Frei Caneca, os motéis da região, todas as putas... o que me tornei? Uma coisa? Um objeto? Um vazio? Não dói mais lembrar dela, quer dizer. dói, mas não choro mais, talvez as lágrimas tenham acabado.... então por que bebo sem limites se não dói? Não posso viver na solidão, estar eu em minha companhia não pode ser tão deprimente, não sou tão insuportável a ponto de querer fugir de mim, você me acha assim tão... tão... seus olhos são profundos demais, parece que está vendo minha alma, lá no fundo, e entendendo tudo, mas é tão frio que não emite um som enquanto eu falo, e tão caloroso que ouve tudo e não sai de perto ou perde a atenção, é um bom amigo........ 'Olga dizia tudo isso fitando seu novo gato, que a seguiu sorrateiramente enquanto voltava bêbada de um bar qualquer, depois de ganhar resto de qualquer coisa comível que ela lhe deu, estava tão esfomeado, tão necessitado de uma casa, que aceitou o monólogo que seguiu a noite inteira, e que continuaria quando ela acordasse, durante o dia, a tarde, porque agora ela não está tão solitária, tem um gato, mais importante que isso, um amigo que divide a cama com ela, que a ouve e que não a deixa tão assustada com os sons urbanos'

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