domingo, 17 de junho de 2012

Fuga

Queria perder a memória como o Gabriel Garcia Márquez, não lembrar as dores, os amores, as alegrias, não lembrar de nada, para quando olharem em minha cara e falarem coisas absurdas, eu ter a capacidade de não me machucar, porque a pessoa estará falando de algo que sequer me lembro, que não traz sentimento nem recordação nenhuma.... se eu não tivesse memória, esse nó não estaria em meu peito, nem essa vontade de chorar simplesmente por ter ouvido a voz desse fantasma... você pode dizer qualquer coisa que me faça rir sem motivos e perder a memória por alguns instantes? Não, você só pode me ouvir... onde estão esses que se dizem meus amigos? Se perderam? Morreram? Ou simplesmente me esqueceram? Bem que fui ensinada que não devo contar com ninguém e tenho que ser forte a todo tempo ........ 'Olga terminou de pronunciar essas últimas palavras em soluços, abraçada com seu gato, que a mirava tão profundamente, como se tentasse pegar para si toda a dor daquela mulher que chorava feito criança que só precisava de um carinho de verdade..... chorou tanto que acabou dormindo, encolhida em seu sofá velho.'

segunda-feira, 11 de junho de 2012

12 de junho

Faz um ano que estou só, um ano curando a dor do amor com outras bocas, outros gostos, outros beijos, nada que me marcou.... mas agora aparece ela, com uma inocência tão provocativa que me perturbo só de lembrar do seu sorriso, perto dela fico boba, sem reação, sem coragem... uma perfeita bunda mole!!! Ela não faz a mínima do que sinto, ou se sabe, finge que não sabe, e eu fico nessa perturbação, esse tentar conquistar o que sei que não tem conquista, correr como um cavalo num campo vazio em direção ao nada, apenas correr, sem nunca alcançar... um desespero dessa paixão solitária, só eu meu sentimento e mais nada.... é tão forte que a odeio, odeio por ela existir, por ser tão encantadora, por ser ela......... 'Olga escreveu isso em um papel, jogou num canto qualquer, deu comida ao seu gato sem nome ainda que estava esfomeado e saiu sem rumo, apenas andou, fumou, bebeu, chorou, na solidão dos becos imundos vazios, até que dormiu ao pé do prédio, acordando com os raios do sol e voltou se arrastando ao apartamento, conseguindo apensar ficar deitada no chão e continuou a dormir o dia inteiro porque era feriado'

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ainda bem que gatos não falam

Um apartamento vazio pode fazer mais barulhos do que se imagina, principalmente quando se encontra no centro, nesses becos sujos e perdidos, e isso está me enlouquecendo, o chão faz barulho, a geladeira faz barulho, ouço passos da rua como se fossem aqui dentro... é tão insuportável.... já estou cansada de fugir da solidão nos bares, conheço todos os bares da Augusta, da Frei Caneca, os motéis da região, todas as putas... o que me tornei? Uma coisa? Um objeto? Um vazio? Não dói mais lembrar dela, quer dizer. dói, mas não choro mais, talvez as lágrimas tenham acabado.... então por que bebo sem limites se não dói? Não posso viver na solidão, estar eu em minha companhia não pode ser tão deprimente, não sou tão insuportável a ponto de querer fugir de mim, você me acha assim tão... tão... seus olhos são profundos demais, parece que está vendo minha alma, lá no fundo, e entendendo tudo, mas é tão frio que não emite um som enquanto eu falo, e tão caloroso que ouve tudo e não sai de perto ou perde a atenção, é um bom amigo........ 'Olga dizia tudo isso fitando seu novo gato, que a seguiu sorrateiramente enquanto voltava bêbada de um bar qualquer, depois de ganhar resto de qualquer coisa comível que ela lhe deu, estava tão esfomeado, tão necessitado de uma casa, que aceitou o monólogo que seguiu a noite inteira, e que continuaria quando ela acordasse, durante o dia, a tarde, porque agora ela não está tão solitária, tem um gato, mais importante que isso, um amigo que divide a cama com ela, que a ouve e que não a deixa tão assustada com os sons urbanos'

terça-feira, 5 de junho de 2012

Quebrando o elo

“Muitas pessoas acham que o pra sempre é pra sempre, mas não é, o pra sempre do amor é enquanto dura, porque cada momento é eterno “Que seja imortal posto que é chama/ E que seja infinito enquanto dure”... não me odeie porque não existe mais o “pra sempre” entre nós, quem vai embora sofre tanto quanto quem fica, porque meu amor não acabou, ele infelizmente mudou de tom.... mesmo dizendo adeus, pra mim vai ser eterno, porque nunca vou esquecer o que vivemos, queria mais uma vez dizer que te amo, mas não ia conseguir ir embora... Se cuida, te amo. Adeus” ‘Olga leu pela última vez e rasgou, dessa vez não chorou, lembrou que estava atrasada para o trabalho e saiu.’

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Lítio

A cada dia descubro o ser errante que sou, sou grossa, mimada, egoísta, egocêntrica.... mas de todos os males não sou o pior, sou bondosa, carismática, ambiciosa, esperta.... Tenho vozes em mim que não sossegam, que querem sempre mais e mais, o muito é sempre pouco... e o pouco é nada... Aparendo uma tranquilidade tão falsa, que me irrito, estou tão inquieta por dentro, ninguém vê, ninguém percebe que luto contra meus montros interiores, contra meus eus que nem sei quem são, o que são, de onde vieram.... só sei que estão aqui no meu peito, me sufocanto, me matando um pouco a cada dia, como se apertassem meu coração com as mãos... dói tanto que quando vejo estou chorando... eu chorando? é, a coração de gelo também chora as vezes, e se acha tão idiota quando isso acontece, que lava a cara e finge que nada aconteceu... Hoje foi visível minha luta, cinco LMs, um atrás do outro, numa ânsia, num desespero, numa ansiedade... ansiedade do que? não sei, só essas vozes em mim que sabem, eu nunca sei o porquê desse nó e essa inquietação, só sei que vem e vai assim, como vento, quando quer, sou apenas a árvore que leva os tapas do vento, que as vezes tenta desviar dos tapas.... 'Depois de dizer isso Olga foi para casa, a terapia está fazendo bem, ela fala, fala, fala, enquanto uma espécie de estátua viva a ouve, dando conselhos, observando seus gestos, suas mãos que não paravam de gesticular, é visível que não está tomando os remédios que o psiquiatra receitou, ou está misturando com bebida... "Olga, não beba mais, e tome seus remédios", foi a última coisa que ouviu antes de sair do consultório.'