terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Aleppo

Eu era uma mulher comum, com meus filhos, meu marido... desde que casei minha felicidade é me dedicar à minha família, porque foi assim que aprendi e é assim que tem que ser.
Mas começou uma guerra. Tem pessoas contra o presidente, tem pessoas a favor. Tem pessoas que nem sei porque estão brigando, mas estão. E essa guerra está destruindo tudo, nossos templos, nossa cidade, nossas crianças...
Algumas famílias conseguiram fugir, estão em outro país, sofrendo muito, porque por algum motivo o restante do mundo não quer nos abrigar, nos vêm como ameaça, coisa errada... mas só queremos continuar vivos e cuidar de nossos filhos.
Outras famílias estão em campos de refúgio, passando fome, sem perspectiva de futuro, dependendo da bondade e solidariedade dos outros. Mas estão vivos.
A minha família e muitas outras não conseguiu fugir. Não sei explicar porque não fugimos antes. Vi tantas crianças da mesma idade de meus filhos mortas depois de ataques... eu tinha esperanças de que haveria trégua, mas não houve...
Minhas irmãs foram atacadas tão brutalmente, usaram seus corpos até morrerem de tanta dor, eram todas puras, não estavam envolvidas nessa guerra. Minha mãe morreu de tristeza. Meu pai diz que ainda vai me salvar, mas só vejo tristeza e desesperança em seus olhos.
Em meio aos barulhos de bombas, tiros e gritos vejo mulheres apavoradas se matando. Elas não querem ser possuídas por outro homem que não seja seu marido, não querem ser usadas até morrer de tanta dor.
Algumas famílias não têm mais mãe e filhas. Eu perdi minhas filhas pra guerra, não podia deixá-las vivas para cair nas mãos desses homens, não podia. Meu marido quer me proteger, eu sei que ele me ama e essa é a única solução, e ele vai salvar meu filho. (Diminuição gradativa da luz, quando estiver quase escuro, tiro.)

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