terça-feira, 30 de abril de 2013

Silêncio e poeira e uma carta

E já faz tempo que ninguém ouve falar da Olga. Simplesmente sumiu. Assim, do nada. Sumiu. A velha da frente que olha tudo pela fresta da janela disse que a menina triste saiu de madrugada como sempre faz e não voltou. Passou tanto, mas tanto tempo, que até a mãe da moça, que nunca deu as caras, apareceu e fez os vizinhos arrombarem a porta pra ver se encontrava alguma pista da garota. Por incrível que pareça o gato, único amigo da moça, estava lá, vivinho da silva, deitado na cama da Olga e comendo um pedaço de carne que sabe lá de onde trouxe. Com certeza alguma janela ficou aberta.
Em todos os cantos do apartamento que se olhava era só silêncio, poeira, silêncio, poeira, silêncio e poeira e no meio disso tudo encontraram um papel, na verdade uma carta:

"Fui encontrar meu lugar no mundo, não me procure nem leve meu gato embora, ele sabe se virar, mas deixe apenas uma janela um pouco aberta, o suficiente pra ele entrar e sair.
Olga"

Carta lida e jogada na cama e a mãe de Olga foi embora, sempre foi assim e vai ser assim sempre, as duas diferentes mas se entendem, não há nada a fazer, apenas deixar ser livre.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha:
a Olga que conheço não é de fugir, se perder...
Ela é de se prender pelo amor,
digamos.
É justamente na abnegação das próprias fugas que eu a amo.

A Olga que conheço é de criar morada e se entregar aos gatos, e virar gato; ao pai, e virar mulher; a mãe, e virar filha.

Mas essa que você traçou me deixou meio bamba, me fez lembrar das minhas fugas e das poeiras que vou deixando na vida e dos gatos que deixo de cuidar e da minha mãe, oposta - dizem que é coisa de signo de terra X signo de água... acho que é coisa da vida e de gente que não acredita que não há hierarquia entre terreno e sonho.